16 on 16: Deixe seu recado após o sinal.

Antes de mais nada quero deixar bem claro que o post de hoje é bastante especial para mim. É com muita alegria que venho apresentar aos senhores o 16 on 16, projeto literário formado por garotas de diversos cantos do Brasil! ❤ Todo dia 16 nós postaremos um texto baseado em um tema que escolheremos em conjunto e hoje, 16 de agosto de 2014, estamos dando a largada! Sem mais delongas porque se não esse post ficará comprido demais, segue a minha primeira contribuição para essa aventura:

16on16

TO DO LIST

Arrumar o quarto!

 Quando organizamos nosso quarto costumamos encontrar coisas que sequer lembrávamos que tivemos um dia. Às vezes são canetas coloridas – que geralmente já estão até com as tintas secas, graças ao tempo em que ficaram esquecidas -, outras são aquelas cartelas de adesivos que vinham nos cadernos que, veja só, estão completas – porque sentíamos dó de usar as figurinhas – e encontramos até mesmo os cadernos! Quando damos sorte, os materiais até possuem algumas folhas em branco, prontinhas para serem usadas.

Naquela tarde de terça-feira Evangeline Vasquez encontrou no fundo de uma das gavetas que tinha dificuldade de abrir o celular que usou durante alguns anos do seu ensino fundamental, um V3 preto cuja carcaça estava lascada e arranhada em alguns cantos, marcas obtidas com os diversos tombos que levou quando ainda era utilizado.

Mas, gente!”, a garota de longos cabelos castanhos exclamou, o aparelho em mãos. O fato de estar sozinha no quarto – ok, eu também estava lá, mas ela não era capaz de me ver então, sim, é como se ela estivesse sem ninguém por perto –  não a impedia de falar em voz alta.  “Pensava que você já tivesse sido descartado!

O carregador do aparelho, entretanto, não estava por perto para que pudesse ligá-lo e ter seu momento de nostalgia mas, mesmo que estivesse, já não havia mais bateria alguma no telefone móvel para que ele pudesse ser ligado. “É uma pena”, pensou, prestes a colocar a capa protetora do espaço onde a bateria deveria estar. “Ah, tá brincando!”, disse em voz alta mais uma vez, a linha de seus lábios se curvando em um sorriso enquanto estreitava os olhos.

Não havia bateria, mas o chip antigo continuava ali, intocado.

Deixando toda a arrumação do cômodo de lado, Evangeline tirou o chip do aparelho antigo e colocou-o naquele que usava atualmente, sentando-se então na cama forrada pelos livros que tirara da estante. Honestamente não sei o que aquela menina pretendia encontrar visto que todos os contatos que guardava naquele número haviam sido anotados no atual, isso há muito tempo, mas sua empolgação olhando a lista era visível.

Aquela era Evangeline, uma garota que se empolgava com pouco.

E que enjoava daquilo que a empolgara com certa rapidez.

Mas ela não colocou o chip antigo de lado tão rápido quanto imaginei que faria. Ao contrário, continuou teclando com o mesmo brilho nos olhos por longos minutos e expressou seus pensamentos em palavras mais uma vez ao proferir “Oh, as mensagens continuam aqui também”. Foi a partir desse momento que vi seu semblante mudar. O sorriso que outrora embelezava seu rosto vacilou e os olhos esverdeados, antes brilhantes, ficaram arregalados lentamente.

Curiosa, corri para ficar ao seu lado e olhei para a tela do celular por cima de seu ombro, lendo aquilo que ela provavelmente havia lido. Hahahaha!!! yeah o filme foi dez. Yeah, o. filme. foi. dez. Desde quando isso é motivo para empalidecer alguém? Abaixei o olhar para conferir quem enviara aquela mensagem e aquilo também me surpreendeu. Número não registrado. Ainda sem entender o que “o filme foi dez” de um suposto desconhecido poderia significar para aquela garota, escutei-a sussurrar um “Ah, Gabriel…” em meio a um suspiro um tanto… ressentido.

Gabriel… Junqueira? Irmão de Paola Junqueira?

Evangeline então tornou a desligar o aparelho e retirar o chip que encontrara para então colocar aquele que estava usando. Ela encarou a imagem de um muro grafitado que colocara como plano de fundo por alguns segundos, até acionar o teclado e permitir que seus dedos digitassem o número que enviara a mensagem que ela acabara de ler.  Engoliu em seco, o polegar há poucos centímetros do botão “chamar”.

Oh, Evangeline. Você só pode estar ficando maluca!

Ela optou por efetuar a ligação e isso com toda a certeza era mais uma demonstração do quão impulsiva a criatura conseguia ser. Só espero que Evangeline não se arrependa por ter feito isso, já que não suportava mais escutá-la fungar durante a noite, lamentando-se por alguma atitude que não deveria ter tomado durante o dia.

Tornou a se levantar, mantendo o celular apoiado entre ombro e a cabeça que estava levemente inclinada, de tal forma que conseguiria deixar o aparelho junto ao ouvido enquanto retomava a tarefa de separar o conteúdo da gaveta – a mesma que guardava o V3 – em duas pilhas: o que seria jogado fora e o que poderia aproveitar. Deve ter se distraído com a ocupação, já que sobressaltou-se ao escutar “deixe sua mensagem após o sinal” dita por uma voz eletrônica, que veio seguida de um beep agudo.

Pigarreou, trocando o celular de orelha, agora segurando-o. Respirou fundo. Colocou-se a falar.

Olá, Gabriel! Nossa, há quanto tempo, hein? Aqui quem fala é a Line, será que você lembra de mim? Ah, mas é claro que lembra. Eu sou inesquecível, tsc”, soltou uma breve gargalhada, abanando a mão livre como se estivesse espantando uma mosca. “Cara, eu estava aqui arrumando o meu quarto e encontrei uma foto de quando éramos crianças. Eu, você e Paola. Fiquei pensando: como será que esses dois estão?”, mentiu. Por que Evangeline inventou a parte da fotografia eu não tenho ideia, mas sei que ela só quer saber como Gabriel está. Mas, realmente, talvez seja melhor incluir a irmã dele em seu discurso fajuto caso ele venha a escutar isso algum dia. Faça o papel de boa moça que sempre desenvolveu muito bem. “Vivos e bem, espero”, prosseguiu, soltando uma risadinha nasalada. “Mas não foi apenas por causa dessa foto que eu resolvi entrar em contato. Sei lá, nos últimos dias algumas coisas me fizeram lembrar de vocês dois, sabia? A última maratona de filmes de animação nos canais Telecine, por exemplo. Se você ainda tem TV a cabo com certeza sabe do que eu estou falando. Passei a tarde toda com o popozão pregado no sofá, assistindo filme por filme e rindo com cada um como se fosse a primeira vez. Como se eu estivesse com vocês aqui.

Evangeline deu uma breve pausa em seu monólogo, incapaz de me ver movimentando a cabeça em sinal de negação. Aquela com certeza seria mais uma noite em que a escutaria chorar grudada ao travesseiro. Mais uma noite que me estressaria com a sua estupidez. Oh, Evangeline, como você é fraca. Onde foi parar o seu orgulho?

Mas, bom, é isso. Eu só queria mesmo saber se vocês estão bem. Se você escutar essa mensagem, lembre-se de mandar notícias, pode ser?” e, tão depressa quanto discou, desligou. Seus dedos tremiam  e foi assim, sem estar totalmente no controle de seus movimentos, que ela decidiu dar sequência à organização de seu quarto. O resultado? Algumas miniaturas de porcelana quebradas em meio à poeira que ainda não havia sido totalmente retirada dos móveis de madeira. Ver parte da sua coleção de bailarinas transformadas em cacos foi o suficiente para fazer com que ela pausasse tudo o que estivesse fazendo e fosse ao banheiro, para um banho.

A água quente escorria por seu corpo e ali, de costas para o box, soube diferenciar o barulho do chuveiro daquele que ela fazia enquanto chorava baixinho. Algo me dizia que aquilo não era por causa das bailarinas e – essa parte me deixava extremamente irritada – me levava a crer que aquela seria mais uma noite sem paz.

***

Agora vamos conferir os textos das outras meninas? Gabriela, Lianne, Sara, Deyse, Ghiovana, Marlana, Jeniffer, Jade, Ariana, Maria Fernanda, Camyli, Mari, Thaís, Camila.

Obrigada, Jade, por ter me chamado para participar disso!

Nos vemos no próximo post, pessoal!

Nikki.

19 comentários sobre “16 on 16: Deixe seu recado após o sinal.

    1. Dependendo da situação, realmente, impulsividade pode não ser ruim. Mas depende >mesmo< da situação, né? Hahahaha Obrigada :333

  1. Cara!! Estou sem palavras, que massa a maneira como você escreve, fiquei encantada *o* Curiosidade: quem seria a narradora? Amei de montão! Parabéns!
    cemiterio-dos-livros.tumblr.com

    1. Nhai, obrigadaaa *-*
      Sobre a narração: tem uma razão pra ela ser assim e eu espero conseguir explorar isso melhor mais pra frente :3

  2. Queria abrir mão do meu orgulho feito Evangeline e ligar pra ele, também faz tempo que não conversamos, mas e dai? Podia dar certo ao menos uma vez.
    Lindo, lindo, lindo, espero que ele retorne!!! Fiquei com pena dela, você tem talento com histórias.

    http://www.novaperspectiva.com/

  3. Louca e impulsiva. Quem nunca? Eu, sempre!!!!
    Adorei o texto, como já te gritei no twitter, esse nome me evocou umas lembranças meio dolorosas, mas tudo bem, a gente supera, a gente sobrevive! haha

    Beijos.

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