16 on 16: Mensagem pra você

Quando foi a última vez que demos as caras por aqui? Quase um mês? Eita! Isso, pessoal, tem nome e sobrenome: trabalhos da faculdade. Mas uma coisa é muito certa: nós sentimos falta de continuar postando e esperamos que logo possamos retomar nosso antigo ritmo! Por enquanto deixarei aqui o texto do projeto literário 16 on 16, que em outubro recebeu o tema: uma carta para uma criança.

Não é segredo que eu estou fazendo do meu 16 on 16 uma única história (se você não viu os textos anteriores e quiser dar uma olhada, basta clicar aqui e aqui) e adaptar o tema atual para o que eu pretendia fazer não foi uma tarefa muito simples e ficou um pouco diferente, mas tentei não escapar – demais – do que foi proposto. Espero que gostem!

***

Alguém poderia fazer o favor de dizer a Eliane que ter todos esses porta-retratos espalhados pela sala é um baita de um exagero? São tantos que eu sequer tenho paciência de sair contando um por um, só pra te dizer um número exato, mas, se você quer realmente saber um pouco mais sobre a decoração da sala dos Vasquez, basta continuar lendo. Vou falar – e criticar, claro. Eliane merece críticas – um pouquinho sobre isso, já que estou sendo obrigada a ficar aqui enquanto espero Evangeline sair daquele banheiro.

Se você sentar no sofá e olhar pro criado-mudo disposto bem ao lado do móvel, encontrará um daqueles modelos meio antiguinhos – deve ter sido o quê, da avó da dona da casa? A madeira tá até lascada no canto superior direito! – com uma foto dela aos 21 anos, usando um vestido longo bege que mais parece uma cortina cobrindo a sua barriga avantajada. Mesmo mal vestida, percebe-se a clara alegria no rosto redondo de Eliane. Sorriso aberto, olhos brilhando. Tudo por causa daquela gravidez.

Quando você desvia os olhos do criado-mudo e volta a atenção para a mesa de centro, PÁ, lá estão mais porta-retratos e dessa vez não é apenas um e sim, veja só, cinco! Quem coloca cinco porta-retratos em uma mesa de centro, minha santa da carupita? Eliane, claro. Aquela mulher tem essa necessidade de expor a infância da filha, assim, a rodo. Sim, porque nessas cinco fotos a única pessoa que nós enxergamos é Evangeline.

Em uma delas encontramos uma bebêzinha deitada de lado naquele mesmo sofá, usando apenas aquelas calcinhas cheias de babados – aquilo deveria ser febre quando Evangeline era recém-nascida, porque não é possível. Lembro que a maioria das crianças tinha pelo menos uma! Agora eu pergunto: quem disse para as mães que colocar aquelas calcinhas nas filhas era bonito? Uma pessoa muito sem noção, porque né. Ô coisa horrorosa. Tirando a feiura daquela roupa, a foto passa a ser engraçada, já que a bebê está encarando a câmera com os olhos castanhos arregalados e os lábios meio abertos revelavam alguns dentinhos. Aposto que se pudesse falar naquela época, Evangeline perguntaria: por que estão apontando essa coisa pra mim?

A segunda foto mostra uma Evangeline mais crescida. Ainda é um bebê, é verdade, mas aqui deveria ter seus três anos. Essa foi tirada na praia. A menina está sentada na areia – novamente, usando apenas a parte de baixo do biquíni. Ô Eliane, pra quê ficar mostrando a parte de cima da sua filha assim? Olha o conselho tutelar, mulher! – e a sombra provocada pelo chapéu cor-de-rosa que usava cobria seu rostinho, mas, como eu estava lá na hora, sei que a garota não estava nem um pouco contente. A foto esconde esse detalhe, mas um pouco à sua frente havia um castelo-de-areia ou, pelo menos, um amontoado que havia sido um castelo. Aparentemente Eliane e Heitor acharam engraçadíssimo ver a filha chateada porque sua obra de arte se desmaterializou misteriosamente – ah, vai, eu achei que seria o máximo acabar com a alegria daquela criaturinha e enfiei o pé naquele negócio sem forma. Arrependimento zero – e quiseram registrar o momento, assim, pra rir novamente.

Vamos para a terceira. O primeiro dia de aula! Essa mostra os três membros daquela família de propaganda de margarina e, diferente de como Eliane pensou que seria, não era Evangeline quem chorava e sim ela. Essa mania de chorar é genética? Só isso explica. Enfim. O casal segurava a menininha que parecia querer se desprender daquele abraço desesperadamente. Se ela queria estudar? Aos quatro anos Evangeline sequer sabia o significado dessa palavra. Espoleta como era, a criança queria mesmo é correr pro escorregador que tinha no pátio, isso sim.

Se você olha a quarta fotografia muito rápido, vai pensar que ela mostra um menino e não uma menina. Mania chata essa de pensar que, só porque uma criança tem cabelo curto, ela é um menino, né? Maldita sociedade. De qualquer forma, nessa Evangeline perdeu seus cachos castanhos. Ok, não só os cachos, mas quase tudo. Era aquele corte “estilo joãozinho”. Se foi por causa de piolho? Não. Apesar de todos os seus defeitos, Eliane sabe que existe shampoo pra isso. Foi chiclete mesmo! Tá vendo, Evangeline? Quem mandou roubar o pudim da coleguinha de sala? Ela não gostou! Aparentemente aquela mãe exemplar não conhecia o poder da água quente, do azeite, até da coca-cola. Cortou a mexa grudenta e quis dar uma de cabeleireira. Não deu certo, ficou torto e quando levaram a menina pra um cabeleireiro de verdade, já não tinha corte que mantivesse tudo no lugar.

A quinta foto não é tão interessante assim. Quero dizer, ela tem uns dois anos, no máximo, e eu vejo aquela Evangeline todos os dias. Alta, cabelos longos modelados em cachos volumosos, pele naturalmente bronzeada. Ela tem o sorriso da mãe, tão aberto e expressivo quanto. É divertido perceber o quanto os olhos podem contradizer a boca. Uma demonstra alegria e felicidade, os outros dois, o contrário. Claro que só percebe isso quem repara na falta de brilho naquelas bolitas escuras que ela trás no rosto – novamente, tão redondo e bochechudo quanto o de Eliane. Talvez essa seja uma das razões que me levam a acreditar que aquela foto não é tão interessante assim.

A Evangeline de hoje não é mais arteira e birrenta como a Evangeline do passado. As peripécias da vida levaram embora parte do brilho que um dia ela possuiu, mas aí eu pergunto: alguém percebe? Não. O sorriso da moça é capaz de enganar a qualquer um. Eu disse que ele é largo e expressivo. Não estou aumentando nada, é a realidade. Se eu pudesse dar um conselho a ela hoje, diria para que não fingisse mais e pediria para que tentasse resgatar mais daquela criança que ela foi. Era mais divertido. Era engraçado ver o ar curioso diante de tudo o que ela fazia. O dia em que pegou o lápis pela primeira vez, o dia em que largou as rodinhas da bicicleta e aprendeu a andar sem que Heitor segurasse o banco e a surpresa em sua expressão quando deu seu primeiro clique na câmera analógica que registrou todos aqueles momentos.

Aquele ar de quem acaba de descobrir algo grandioso não aparece há muito tempo, bem como a essência ingênua. Mas infantilidade e fingimento tem de sobra. Essa é Evangeline, a menina-mulher que sorri sem sorrir.

Ah, sim, eu disse lá em cima que existem muitos porta-retratos pela sala e citei apenas seis, mas há muitos outros. Três mostram um pouco do que aconteceu no casamento de Eliane e Heitor – os dois no altar, a troca de alianças e o primeiro beijo trocado depois de terem se tornado marido e mulher, tudo na igreja -, outras duas mostram um Heitor na adolescência e há também mais algumas de Eliane sozinha, sem estar grávida. Há fotos da família inteira – “família”. Sei que Heitor não considera todos aqueles irmãos e sobrinhos como família – e… que porcaria é essa?

Chego mais perto do criado-mudo colocado do outro lado do sofá e estreito os olhos, como se isso fosse tornar a imagem mais nítida. Desde quando essa foto está aqui?! Eis uma fotografia bem antiga – mais antiga do que todas as outras que citei. Só não veio antes daquelas que revelam um Heitor mais jovem. Essa fotografia mostra mais um bebê. Esse não usava calcinha cheia de babados e sim uma fralda bem simples, acompanhada de uma camisetinha de flanela cuja cor eu sequer consigo descrever já que a figura está em preto e branco, diferente de todas as outras. É tão novinho que não há fios de cabelo em sua cabeça ou dentes dentro de sua boca. O bebê sorri e levanta os bracinhos na direção de quem tirou a foto, as dobrinhas em suas pernas muito perceptíveis.

Não dá pra identificar se é menino ou menina, mas eu sei o sexo daquela criança.
É menina.

Eu estou tremendo como há muito não tremia. Se meu coração ainda fosse capaz de bater dentro do peito, creio que, nesse momento, ele estaria acelerado, pulsando em um ritmo revoltoso e indignado.
Revoltoso por estar me sentindo exposta.
Indignado por ter encontrado aquela afronta.

Aquele bebê sou eu.
E eu quero que Heitor engula essa fotografia e se arrependa por tê-la colocado aqui, para que qualquer um possa ver. Quero castigar Eliane por ter permitido que ele a expusesse em sua sala e quero punir qualquer um que venha a pensar que aquela criança é filha daquele casal, quando bater os olhos naquele porta-retrato minúsculo de prata.

Escuto uma exclamação de surpresa ao longe e é ela quem me faz desviar os olhos daquele bebê sorridente. Evangeline deixou o banheiro, afinal, e a julgar pela sua expressão de completo choque, chuto que ela se deparou com algo tão impressionante quanto eu acabei de me deparar. Uma das mãos esconde a boca aberta e a outra, trêmula, segura o celular que é o alvo de seus olhos.

É dela que eu me aproximo agora e é para a tela do celular que eu foco a minha atenção – nota: quero socar quem continua me obrigando a continuar aqui, com Evangeline, também. Uma mensagem cujo número não foi registrado e de conteúdo:

Line! Quem é vivo sempre aparece, huh? kkkkk

Gabriel Junqueira.
Era só o que me faltava.

***

É isso! Agora, as outras meninas!

Gabriela, Lianne, Sara, Deyse, Ghiovana, Marlana, Jeniffer, Jade, Ariana, Maria Fernanda, Camyli, Mari, Thaís, Camila.

Nos vemos em breve, pessoal!
Nikki.

8 comentários sobre “16 on 16: Mensagem pra você

    1. Gente, muito obrigada ❤
      Sabe que eu também fico? Só começo a descobrir o que virá na próxima quando decidimos o tema do mês seguinte.

  1. Ok, você me deixou confusa, completamente e loucamente confusa!!! kkkkkk Quem é essa pessoa narrando tudo?! E o que vai acontecer agora com a Evangeline e o Gabriel? Pelo amor de Deus CONTINUE!!

    1. JNDGJDJGNFDJGN DESCULPAAAAAAAAAA
      Um dia todos saberemos quem é a narradora, prometo!
      Já a resposta para as outras perguntas nem eu tenho ;-; dfjgndjfgj

      Mas só de ver sua empolgação no comentário já me deixou toda <3, então, obrigada!

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